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“Rio 1710 – um jogo de interpretação” é um livro-jogo de RPG de mesa, produzido pela Prefeitura do Rio, por meio do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH). O livro transporta os leitores e jogadores para o início do século XVIII na cidade do Rio de Janeiro, proporcionando uma imersão em um cenário rico em história e cultura.
Baseado em intensas pesquisas e em iconografia histórica, a obra recria aspectos da sociedade, paisagem e cultura carioca da época. Os leitores poderão explorar construções e locais históricos, se aventurar nos primórdios da colonização portuguesa na cidade, interagir com personagens da época e, com liberdade total de imaginação, criar novas aventuras em um Rio de Janeiro de mais de 300 anos atrás.
Confira um trecho
Antes da chegada dos portugueses à Baía de Guanabara no século XVI, o território era ocupado por povos originários, que nem sempre se relacionavam pacificamente. O principal conflito ocorria entre Temiminós e Tamoios, pertencentes ao conjunto dos Tupinambás.
Os Temiminós, que ocupavam a região que hoje corresponde a Niterói, chamavam seu território de “guanabara” (que significa “seio do mar”), uma baía arredondada e rica em recursos pesqueiros.
Em 1531, uma flotilha portuguesa teria cruzado a costa e ancorado na foz de um rio na Baía de Guanabara. Lá, teriam erguido uma casa de pedra e cal, técnica desconhecida pelos indígenas. Estes, intrigados, teriam nomeado o rio como “Carioca”, junção das palavras tupis “kara’iwa” (caraíba ou homem branco) e “oka” (casa), significando, assim, “casa de brancos”. Esta é uma das teorias sobre a origem etimológica do termo.
Em novembro de 1555, cerca de 600 franceses desembarcaram em uma ilha na entrada da Baía de Guanabara. Sob a liderança de Villegaignon, fundaram o Forte Coligny, núcleo original da França Antártica, tendo como objetivo servir de refúgio aos huguenotes (protestantes franceses). Com auxílio dos franceses, os Tupinambás conseguiram expulsar seus rivais Temiminós da Ilha de Paranapauã, atualmente “Ilha do Governador”.
Diante do massacre dos Temiminós, aliados dos portugueses, o então Governador-Geral Mem de Sá enviou quatro caravelas, em meados de 1557, para resgatar os Temiminó. Há registros de que ao menos três centenas de indígenas foram levados para o Espírito Santo pelos portugueses, onde fundaram novas aldeias.
Os franceses foram expulsos da Ilha de Villegagnon em 15 de março de 1560, com a destruição do forte Coligny pelas forças de Mem de Sá, formadas por soldados portugueses apoiados por muitos arqueiros Temiminós. A vitória foi possível graças ao auxílio do Galeão Botafogo, considerado o maior e mais poderoso navio de guerra à época.
Em resposta, Mem de Sá designou seu sobrinho, Estácio de Sá, para vigiar a região contra novas investidas dos franceses. Foi nesse contexto que ocorreu a fundação da vila de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1º de março de 1565. A nova vila era, então, um mero acampamento protegido por uma paliçada na Urca, entre os morros Cara de Cão e Pão de Açúcar, diante da enseada de Botafogo.
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PERGUNTAS E RESPOSTAS
RPG é acrônimo para “Role Play Game” – em inglês, “Jogo de Interpretação de Papeis”. Trata-se de um jogo de imaginação em grupo, no qual os jogadores criam e interpretam personagens fictícios em um mundo imaginário, guiados por um narrador, que recebe o nome de “Mestre” ou “Dungeon Master”, título derivado do famoso Dungeons and Dragons (D&D).
O RPG chamado “de mesa” (em oposição aos jogos eletrônicos) é jogado presencialmente ou através de reuniões online, utilizando dados e regras que determinam o sucesso ou fracasso das ações dos personagens no jogo.
Recentemente, se tornaram populares os chamados VTT, ou Virtual Table Top, sites que facilitam a rolagem de dados e o compartilhamento de informações online para jogos de mesa. Os jogadores contam histórias juntos, tomando decisões e resolvendo desafios que são apresentados pelo narrador, afetando o curso da narrativa.
O objetivo do jogo é se divertir em grupo e criar uma experiência compartilhada entre os jogadores, que podem viver aventuras emocionantes, experimentar diferentes papéis e personalidades e conhecer lugares reais e imaginários por uma nova perspectiva.
Em qualquer RPG existem “regras de ouro”, que são fundamentais para manter a jogabilidade justa, amigável e divertida para todos os participantes.
Trate os outros da maneira como você gostaria de ser tratado.” Os personagens podem facilmente se envolver em conflitos dentro do jogo, e pode ser fácil esquecer que o acontecido dentro do jogo não deve afetar o relacionamento entre os jogadores na vida real. Esta regra ajuda a manter a comunicação e a cooperação entre os jogadores, criando um ambiente positivo e amigável.
Existem, também, temas sensíveis e potencialmente ofensivos que não devem ser explorados em um RPG. Esses temas podem incluir racismo, escravização, misoginia, violência sexual, entre outras formas de violência e opressão. Mesmo sabendo que essas questões estavam presentes em 1710 e, infelizmente, ainda se apresentam atualmente, não significa que devam ser normalizadas e, muito menos, exaltadas em um jogo.
É importante evitar representações estereotipadas e caricatas de povos e culturas, bem como jamais romantizar ou justificar a opressão colonial sobre os povos indígenas e africanos. As várias formas de violência contra mulheres também formam um tema especialmente delicado, que deve ser tratado com cuidado e responsabilidade. Representações explícitas ou glamorizadas de violência sexual podem ser extremamente perturbadoras e ofensivas e não devem ocorrer em um jogo de RPG.
Algumas ferramentas podem ser empregadas para garantir um ambiente emocionalmente saudável e uma experiência positiva e inclusiva. O Cartão-X, por exemplo, permite que os jogadores interrompam a narrativa, ao fazerem um gesto em forma de “X”, sempre que se sentirem desconfortáveis com o conteúdo abordado. Essa ferramenta proporciona uma forma discreta de expressar limites pessoais, promovendo um ambiente seguro. O “time-out” é outra prática valiosa, concedendo aos participantes a oportunidade de pausar o jogo para discussões ou esclarecimentos, assegurando que todos estejam alinhados e confortáveis com a história em desenvolvimento. Essas “ferramentas de segurança” contribuem para a construção de uma comunidade de RPG inclusiva e justa, onde a diversidade de experiências e perspectivas é respeitada e valorizada.
A última regra de ouro é a seguinte: “Todas as regras do sistema de jogo são opcionais”. Isso significa que o mestre pode ajustar ou criar novas regras conforme considerar necessário para o seu jogo, sempre levando em conta a visão dos outros jogadores.
Por exemplo, se um jogador acha que a mecânica apresentada para determinada situação não faz sentido dentro da história que está sendo contada, o narrador pode ajustar a regra para refletir melhor a narração, ou então, deixar de aplicar determinada regra para evitar um representação muito violenta. Igualmente, se uma regra está tornando o jogo desnecessariamente lento ou injusto, o mestre pode ajustá-la para tornar o jogo mais fluido e coerente para todos. Os participantes também podem criar novos conteúdos para as Aptidões e Deméritos, equipamentos, armas e criaturas não descritas neste livro. Naturalmente, qualquer mudança nas regras deve ser comunicada previamente aos jogadores.
Embora o RPG seja um jogo que pode ser elaborado para atender ao público de praticamente qualquer idade, entendemos que a temática apresentada neste livro não se destina a crianças.
Considerando uma representação realista do Rio de Janeiro de 1710, é possível que os jogadores experimentem situações e temas sensíveis, envolvendo violência, consumo de álcool e tabaco, contrabando, pirataria, escravização, entre outros, considerados inadequados para menores de 16 anos.
Mesmo não sendo o objetivo do jogo explorar ou romantizar nenhum desses temas, retratar com realismo e honestidade a experiência humana da época contribui para uma melhor compreensão da nossa História e para um jogo mais imersivo e interessante.
Esse livro se destina, portanto, a maiores de 16 anos, podendo ser usado como uma ferramenta de ensino, pesquisa, ou simplesmente para a recreação entre amigos.
Caso seja usado com finalidade educativa, em salas de aula, por exemplo, o professor ou orientador pode deixar de fora algumas regras que adicionam realismo às situações de perigo e combate. Isso pode atenuar o caráter explícito do jogo em determinadas situações, tornando o jogo mais leve e agradável para públicos mais sensíveis.
Diferente de outros jogos, no RPG não existem limites pré-formatados para as ações dos jogadores e para as situações criadas pelo narrador. Assim, é impossível prever quais situações irão surgir, cabendo ao narrador conduzir o jogo com responsabilidade e sabedoria, de modo a evitar situações desagradáveis ou desrespeitosas.
Há vários anos, a prática do jogo vem sendo encarada como uma ferramenta de apoio dentro do cenário educacional, contribuindo para o desenvolvimento de diversas competências e habilidades dos alunos, e estimulando-os durante a fase de aprendizagem.
No jogo de RPG, o mestre deve apresentar aos jogadores uma narrativa abrangente, que contenha uma série de cenários e situações com níveis de dificuldade diferente. Estes desafios podem ser táticos, sociais, morais ou estratégicos e podem ter múltiplas soluções.
Separando ainda mais os RPGs de outros jogos educacionais está a ênfase narrativa e a mecânica de desenvolvimento do personagem dentro de uma campanha. À medida que o jogador explora e se envolve com o mundo do jogo, suas escolhas movem a narrativa adiante. À medida que o jogo avança, o personagem do jogador desenvolve tanto sua história e conceito quanto suas capacidades na mecânica do jogo, evoluindo seu personagem em termos de pontos de jogo, a chamada “experiência” (ou XP).
O RPG, assim como qualquer atividade educacional, pode ser uma ferramenta prática e lúdica quando bem planejado e organizado, possibilitando que os alunos aprendam de forma prazerosa. As características principais que tornam o RPG uma ferramenta educacional eficaz são: socialização, cooperação, criatividade, interatividade e interdisciplinaridade.
A socialização ocorre por meio dos diálogos improvisados entre os personagens dos jogadores e o narrador do jogo, que conduz a história e interpreta os personagens não-jogáveis ou PNJs (ou, em inglês, NPCs). A cooperação é fundamental para o sucesso diante dos desafios, exigindo que os jogadores colaborem para concluir a atividade. A criatividade é estimulada, permitindo que cada participante desenvolva sua imaginação ao se envolver na narrativa e decidir as ações de seus personagens. A interatividade constante entre jogadores e mestre promove uma maior fixação de conteúdo. A interdisciplinaridade também se apresenta, pois uma única história pode abordar temas de várias disciplinas de maneira coordenada.