Cerca de 180 achados arqueológicos descobertos nas obras do Porto Maravilha serão expostos à visitação pública pela primeira vez. Por iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura e do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, em parceria com pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e do Museu Nacional, a exposição “Achados do Valongo” foi aberta no Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab), na Gamboa, nesta quarta-feira, dia 30/11. A mostra reúne itens como piaçavas, cerâmicas, pedras e peças em vidro que contam um pouco da história da herança africana no Rio. São achados arqueológicos do antigo Cais do Valongo, na zona portuária do Rio, lugar onde operou o maior mercado de escravizados do Brasil. Fazem parte do acervo do Laboratório Aberto de Arqueologia Urbana (LAAU) da Prefeitura do Rio, e ficarão em cartaz no Muhcab por pelo menos um ano.
A exposição marca ainda um ano da inauguração do Muhcab, que funciona no Centro Cultural José Bonifácio, na Gamboa. Nas palavras do secretário municipal de Cultura, Marcus Faustini, “visitar a exposição é lidar com a memória afro-brasileira da nossa cidade. Construir um futuro sem racismo e com mais diversidade é um compromisso dos cariocas, então é importante pegar algo que estava apagado e trazer para que a população tenha acesso e é o que o Muhcab tem feito ao longo deste seu primeiro ano de vida. ”
Criado por ocasião das obras do Porto Maravilha, o LAAU soma cerca de 1,2 milhão de peças localizadas durante as intervenções na Zona Portuária. Um lote de 262 mil itens é relativo às escavações do Cais do Valongo. As demais são dos sítios Sacadura Cabral, Morro da Conceição e Trapiche da Ordem, entre outros. As peças que serão agora expostas no Muhcab fazem parte do lote do Cais do Valongo.
Trata-se de uma demanda de anos do movimento negro, de especialistas e do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. Das peças previamente selecionadas, parte estava guardada no LAAU e parte estava cedida ao Departamento de Arqueologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UERJ para pesquisas. “É com muito orgulho que faço parte da abertura dessa exposição. É uma amostra singela, mas que representa muito. Representa a luta de todos nós, da comunidade afro-brasileira e de toda essa região da Pequena África. Que seja apenas o começo de um grande trabalho”, afirmou a presidente do IRPH, Laura Di Blasi.
A exposição de longa duração deverá durar pelo menos um ano, podendo ser renovada por iguais períodos. A mostra tem curadoria dos pesquisadores da UERJ e Museu Nacional, organização do Muhcab, patrocínio do Instituto Moreira Salles e Instituto D’Orbigny e supervisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Ela se soma à exposição permanente do Muhcab “Protagonismos – Memória orgulho e identidade”. Espaço dedicado a pensar a história da escravidão, buscando reflexões sobre a complexidade do tema e suas consequências na atualidade, o Museu da História e Cultura Afro-Brasileira foi inaugurado como museu de território em novembro de 2021.
Descoberto em 2011, na fase inicial do projeto Porto Maravilha, de revitalização da região, o cais era adjacente ao mercado. Estima-se que por lá passaram 700 mil africanos escravizados, entre 1790 e 1831, oriundos principalmente de portos do atual território de Angola, mas também de Moçambique.
A escavação arqueológica de 2011 abriu um pedaço de terreno de quatro mil metros quadrados. De lá saíram centenas de artefatos de matrizes africanas, como contas de colares, búzios, brincos e pulseiras de cobre, cristais, peças de cerâmica, anéis de piaçava, figas, cachimbos de barro, materiais de cobre, âmbar, corais e miniaturas de uso ritual. “Ao povo carioca fica essa reflexão do poder da arte e da importância da fé nos momentos de resistência a violações de direitos. As pessoas se apegaram à sua arte e às suas crenças”, acrescenta Marcus Faustini.
Museu da História e Cultura Afro-Brasileira (Muhcab):
Rua Pedro Ernesto 80, Gamboa. Qui a sáb, das 10h às 17h. Grátis. Livre.